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50 anos sem Herzog: a voz que desafiou o silêncio volta a ecoar na Catedral da Sé

Cinco décadas após o assassinato de Vladimir Herzog, seu nome volta a soar sob a cúpula da Catedral da Sé, em São Paulo. Nesta sexta-feira (25), familiares, jornalistas, religiosos e autoridades celebraram a memória do jornalista morto sob tortura nas dependências do DOI-Codi, em 1975 — um crime que expôs a face mais cruel da ditadura militar e ajudou a iniciar sua derrocada.

Promovido pela Comissão Arns e pelo Instituto Vladimir Herzog, o ato inter-religioso refaz a histórica cerimônia que, há 50 anos, reuniu mais de oito mil pessoas em desafio ao regime. Hoje, sob direção de Dom Odilo Scherer e com a presença da reverenda Anita Wright e do rabino Ruben Sternschein, a homenagem se estende a todas as vítimas da repressão.

O evento teve abertura do Coro Luther King e leitura da carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, interpretada por Fernanda Montenegro — um tributo às mulheres que transformaram a dor em luta.

“São 50 anos de silêncio, luta e busca por justiça”, afirmou Ivo Herzog, filho de Vladimir e diretor do instituto que leva seu nome. “O Estado reconheceu sua culpa, mas as feridas seguem abertas. A impunidade ainda é uma sombra sobre o país.”

Em 1975, a morte de Herzog rompeu o medo e desmascarou a farsa do “suicídio” forjado pelo regime. Sua coragem, e a dos que o homenagearam na Catedral, deu novo fôlego à resistência civil. Para o jornalista Sérgio Gomes, amigo e ex-preso político, aquele ato foi “o início da reconquista democrática”.

Nascido em 1937, na antiga Iugoslávia, e refugiado no Brasil ainda criança, Vlado dedicou a vida ao jornalismo e à defesa da liberdade de expressão. Seu assassinato, reconhecido oficialmente como crime de Estado, tornou-se símbolo da luta por verdade e memória.

“O caso Herzog foi o ponto de virada — a repressão perdeu o controle da narrativa”, afirma o historiador Marcos Cordeiro Pires. Para ele, lembrar é um ato político: “O esquecimento é o terreno fértil da barbárie.”

Cinquenta anos depois, a voz de Vlado continua a ecoar — lembrando que a democracia não se conquista apenas uma vez, mas se defende todos os dias.