Desde de junho do ano passado na presidência da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campina Grande –CDL-, o empresário CARLOS JOSÉ BOTELHO, é o entrevistado deste domingo da série CAMPINA QUE FAZ, coordenada pelo BOA NOTÍCIA PB.
CARLOS BOTELHO ratifica estar em perfeita sintonia com os “novos ventos” pós-pandemia que irão determinar, confirgurar e exigir perfil inovador nas relações de empreendimento e trabalho da atividade comercial no planeta.
O empresário fala sobre a crise enfrentada pelo comércio de CG nesses 11 meses de pandemia da Covid-19, dos desafios e das estratégias para a superação desse delicado momento.
Ele critica o poder público municipal pelas poucas ações de “socorro” ao comércio local e adverte a sua categoria que é preciso inovar.
Botelho revela ações da CDL que darão suporte aos empreendedores para a inserção segura do seu empreendimento no mercado online, home off, no e-comerce.
Confira a entrevista:
BN – Como tem se comportado o comércio de CG, durante esses quase 11 meses de pandemia?
CARLOS BOTELHO – O ano de 2020 realmente não foi fácil para quem depende do comércio. Seja lojista, colaborador ou trabalhador informal, todos foram impactados de alguma forma pela crise iniciada com o surgimento da pandemia do coronavírus. Diante de tudo o que temos enfrentado ao longo desses últimos meses percebemos que aqueles que se abriram para inovar saíram na frente e estão conseguindo ultrapassar essa fase com menos dificuldade. Para isso, a CDL tem buscado acompanhar de perto todas as decisões que interessam diretamente ao comércio de Campina Grande, agindo sempre em defesa do setor.
BN – Qual a atividade ou setor do comércio mais afetado com a crise da Covid-19?
CARLOS BOTELHO -Todas as áreas foram fortemente impactadas, porém, um dos setores que ainda sofre com a escassez de produtos é o de móveis e eletrodomésticos, pois, as fábricas desses produtos passaram longo tempo com as atividades interrompidas e isso acabou prejudicando os estoques das lojas não só de Campina Grande, mas do varejo nacional.
BN – Qual o número de empreendimentos fechados na cidade nesse período?
CARLOS BOTELHO – Não temos como afirmar exatamente o número de operações encerradas em razão da pandemia, mas, segundo a base de informações do DataSebrae, atualmente temos em Campina Grande aproximadamente 12 mil empreendimentos vulneráveis ao encerramento das suas atividades ou outras consequências surgidas a partir da Covid-19, sendo 7.078 Micro Empreendedores Individuais (MEI) e 4.112 Microempresas (ME).
BN – O poder público municipal, estadual ou federal “socorreu” os comerciantes que estão ainda sendo afetado pela crise?
CARLOS BOTELHO – Infelizmente vimos poucas ações por parte dos poderes públicos para salvar as empresas. O comércio de Campina Grande permaneceu fechado por mais de oitenta dias e mesmo com todos os prejuízos acumulados, os lojistas permaneceram pagando o ICMS normalmente, sob o risco de sofrer com penalidades. A carga tributária que o empresário é obrigado a arcar é desestimulante e alguns pontos poderiam ter sido ajustados especialmente pelo governo estadual, mas infelizmente não pudemos contar com esse “socorro”.
BN – Com o fim do auxilio emergencial a situação no comércio local tende a se agravar ainda mais?
CARLOS BOTELHO – Nos primeiros meses da pandemia, as vendas do comércio campinense chegaram a cair mais de 60%, em abril e maio. A partir de então, a injeção de recursos do auxílio emergencial, a adaptação do consumidor e lojistas ao e-commerce e, mais à frente, a flexibilização da quarentena, tiveram impacto positivo no consumo. Segundo pesquisa da FCDL São Paulo, o varejo nacional teria perdas 9% maiores se o auxílio não tivesse sido pago durante todo esse período. O auxílio emergencial teve sua parcela de importância, mas hoje, o que comemoramos é a volta do emprego que tem sido positiva em Campina Grande.
BN– Não teremos o tradicional carnaval da paz e provavelmente também será suspenso, outra vez, o Maior São João Mundo, como a CDL avalia esse cenário nebuloso?
CARLOS BOTELHO – Infelizmente é uma situação jamais imaginada em outros períodos antes dessa pandemia. A cidade toda perde com a não realização de eventos que já fazem parte do nosso calendário e que são responsáveis por levar o nome de Campina Grande para outras regiões. O setor de bares, restaurantes e hospedagem será fortemente impactado pela ausência de eventos, mas o comércio também sofre com isso. Nos resta aguardar que as vacinas que já começaram a ser aplicadas façam o efeito esperado e que muito em breve a população volte a ter uma vida normal e que o nome de Campina Grande volte a ser projetado para fora como palco de grandes eventos.
BN– Como vê o crescimento, a passos largos, da atividade home off?
CARLOS BOTELHO – Mais de 50% das pessoas que trabalham no comércio cumprem funções administrativas, que podem ser realizadas do domicílio e que não implicam no funcionamento das operações. Não vejo problema algum desde que o colaborador apresente os resultados esperados pela empresa que opta pela forma de trabalho. No meu ponto de vista, o grande desafio é a comunicação com os colegas. Aquela conversa rápida para tirar uma dúvida ou ajustar um projeto fica mais difícil.
BN– Essa realidade deve ser interpretada como sinal de que o comércio online passa a ser uma opção inadiável e urgente no – mundo pós-pandemia?
CARLOS BOTELHO – Não necessariamente. Existem empresas que adotaram o sistema home office, mas não atuam diretamente com o comércio online. Como afirmei antes, metade das pessoas que trabalham em casa exercem funções administrativas.
BN – Lideranças empresariais da cidade já sustentam o discurso que “o comerciante que não migrar para o e-commerce está fadado a cerrar as portas do seu empreendimento”. O Sr. concorda com a assertiva?
CARLOS BOTELHO – Não digo que ele deve migrar imediatamente para o e-commerce, pois requer um planejamento a longo prazo. No entanto, se o empresário não se render as plataformas digitais e não entrar no mercado de vendas online ele terá grandes perdas. Um termo que está sendo bastante usado e vem como tendência do varejo 2021 é o “FIGITAL” que nada mais é que a união entre o comércio físico e o comércio digital. Sabendo atuar das duas formas, o empresário conseguirá se manter no mercado.
BN – O comércio de Campina está preparado para, já neste instante, entrar 100% no mundo online?
CARLOS BOTELHO – Ainda há muito o que se discutir sobre este tema. Muitos empresários que, antes da pandemia, não davam muita importância para as vendas online precisaram correr atrás do prejuízo e lançarem-se nesse mercado que, para alguns, ainda é novidade. Estar numa plataforma digital, atuando com vendas através de instagram ou whatsapp não significa que o comércio da cidade está 100% online. Ainda precisamos de muitos estudos e de uma plataforma de vendas online totalmente nossa, sem que nos esqueçamos das lojas físicas, pois, são elas que de fato movem a nossa economia e geram mais de 15 mil empregos diretos.
BN – A CDL já discute essa alternativa?
CARLOS BOTELHO Sim. Ainda nos primeiros meses da pandemia iniciamos estudos para viabilizar uma plataforma de marketplace. É algo que deve levar um tempo para ser lançado. Para nós, não adianta agir com imediatismo e sem planejamento, então, a ferramenta deverá levar um tempo para ser apresentada.
BN- Você acredita que o empreendimento com estrutura física – vai mesmo desaparecer?
CARLOS BOTELHO De forma alguma. Embora que as novas tecnologias facilitem a relação de compra e venda, elas não farão com que as lojas físicas desapareçam, mas serão aliadas do comerciante.
BN- O que a CDL espera da atual gestão da PMCG no que tange às políticas públicas de apoio e incentivo ao comércio?
CARLOS BOTELHO – A CDL é uma entidade apartidária e como representante do comércio varejista de Campina Grande, procura sempre manter um bom relacionamento com os chefes dos poderes públicos e com as demais entidades classistas. Afinal, todos nós atuamos com o mesmo objetivo: o progresso da nossa cidade. E é assim que esperamos dialogar com a nova gestão.
BN – Neste instante agudo da crise, qual a maior dificuldade enfrentada pelo comércio de Campina?
A nossa maior dificuldade é fazer com que as pessoas entendam a necessidade de se prevenir contra a covid-19. Para que o comércio permaneça aberto em meio a pandemia é necessário que os cuidados básicos sejam seguidos à risca. Os lojistas não podem, em hipótese alguma, relaxarem quanto ao cumprimento dos protocolos de segurança. Se os casos voltarem a subir o comércio poderá fechar e aí, todos nós seremos prejudicados.
BN – A CDL defende também o retorno presencial já nesse semestre das aulas nas escolas e universidades públicas e privadas?
CARLOS BOTELHO – Quando a vacina chegar com mais facilidade à população esse assunto deverá ser amplamente discutido. Por enquanto, o ensino híbrido tem sido mais indicado para o controle da pandemia.
BN – Existe perspectiva de crescimento ou de aquecimento das vendas no comércio de CG a curto prazo?
CARLOS BOTELHO – O primeiro semestre deverá ser mais complicado em função da não realização do carnaval e de possivelmente ficarmos mais um ano sem O Maior São João do Mundo. No entanto, estamos nos preparando para realizamos ativações de vendas que contribuam para o crescimento do comércio campinense. Estamos elaborando alguns projetos e já na próxima terça-feira (26) estaremos nos reunindo com a secretária de desenvolvimento econômico da PMCG, Rosália Lucas, o presidente da Associação Comercial, Antônio Andrade e outros líderes, para discutirmos essas estratégias.
BN – No pós-pandemia como será a nova imagem e o comportamento do mundo empreendedor?
CARLOS BOTELHO – De constante renovação. Quem não se reinventar e não buscar alternativas para fazer seu modelo de negócio prosperar será engolido pelo mercado. Isso independente de pandemia. É necessário estar atento às tendências de cada ano, de cada estação e trazer para dentro da sua empresa o que pode ser aplicado.
BN – A capacitação de empreendedores e comerciários para o trabalho virtual é mais um desafio a ser liderado pela CDL-CG?
CARLOS BOTELHO – Sim! Estamos fechando uma parceria com uma faculdade privada para oferecermos qualificação para empreendedores e colaboradores, pensando obviamente nas lojas híbridas, modelo de negócio que se tornará indispensável para quem trabalha com vendas.
Por Vanildo Silva
Jornalista, editor do BOA NO´TICIA PB