O dia 24 de outubro marca um ano da morte do documentarista Vladimir Carvalho, um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro. Paraibano de Itabaiana, o cineasta faleceu aos 89 anos, deixando uma obra que retrata, com olhar crítico e poético, as transformações sociais e políticas do país.
Para celebrar sua trajetória, o Cine Brasília — que hoje abriga a Sala de Cinema Vladimir Carvalho — realiza no dia 5 de novembro, a partir das 18h30, uma homenagem especial ao diretor. O evento contará com a presença do irmão e diretor de fotografia Walter Carvalho, conhecido por trabalhos em Central do Brasil, Carandiru e Madame Satã. Durante o encontro, será exibido o curta Vladimir Carvalho, Cinema e Memória, da jornalista Márcia Zarur, que traz a última entrevista concedida pelo documentarista.

Na conversa registrada no curta, Vladimir detalha o projeto de transformar a Fundação Cine Memória, criada por ele nos anos 1990, em um Museu do Cinema Brasileiro. A proposta está em andamento, com apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e resultará na criação da Cinemateca de Brasília, que abrigará o acervo do diretor. São mais de 5 mil itens reunidos — entre jornais, fotografias, filmes, câmeras e equipamentos —, compondo um dos maiores arquivos pessoais da história do cinema nacional.
As homenagens continuam no Festival Internacional Cinema e Transcendência, que acontece no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no dia 7 de novembro, às 19h30. Na ocasião, será exibido o documentário O Homem de Areia (1982), que retrata a trajetória de José Américo de Almeida, político e intelectual paraibano, reafirmando o elo entre o olhar crítico de Vladimir e as raízes culturais do Nordeste.
Durante mais de seis décadas de carreira, Vladimir Carvalho produziu filmes que se tornaram marcos da cinematografia documental brasileira, como O País de São Saruê (1971), sobre as secas no sertão paraibano; Conterrâneos Velhos de Guerra (1991), que mostra a saga dos candangos na construção de Brasília; e Barra 68 (2000), sobre a criação da UnB e a repressão durante a ditadura militar.
O diretor chegou a Brasília em 1969, convidado para ministrar um curso na Faculdade de Comunicação da UnB. No mesmo ano, lançou o curta A Bolandeira, premiado no Festival de Brasília, e foi convidado a fundar o Núcleo de Documentários da Universidade, onde lecionou por 23 anos.
Mais do que um cineasta, Vladimir Carvalho foi um guardião da memória nacional, um contador de histórias que deu voz aos anônimos e registrou, com sensibilidade e coragem, as contradições do Brasil. Seu legado segue vivo nas telas, nos acervos e na lembrança de quem acredita que o cinema é também um ato de resistência.