ISTAMBUL — Em um dos momentos mais simbólicos do diálogo ecumênico contemporâneo, cerca de quatrocentos fiéis — entre bispos, sacerdotes, religiosos e representantes de diferentes Igrejas cristãs — lotaram a Igreja Patriarcal de São Jorge, no Fanar, na manhã deste domingo (30), para celebrar a festa do Apóstolo André, fundador da Sé de Constantinopla segundo a tradição. A Divina Liturgia foi presidida por Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico.

No último dia da visita apostólica à Turquia, o Papa Leão XIV participou da celebração com profundo recolhimento, unindo-se à oração pela tão desejada unidade entre as Igrejas — um gesto que emocionou fiéis do mundo inteiro.
“A fé de André é também a nossa fé”, diz o Papa
Ao iniciar sua saudação, Leão XIV recordou que sua peregrinação pelos lugares marcados pelo Primeiro Concílio Ecumênico chegava ao “ponto culminante”: a memória litúrgica do Apóstolo André, o primeiro a anunciar o Evangelho na antiga Constantinopla.
“A fé de André é também a nossa fé: a mesma fé professada pelos Concílios Ecumênicos e guardada pela Igreja ao longo dos séculos.”
O Papa destacou que a fé expressa no Credo Niceno-Constantinopolitano continua sendo um elo real que permite a católicos e ortodoxos reconhecerem-se como irmãos em Cristo, apesar das feridas históricas.
Caminho de reconciliação: “Não podemos retroceder”
Recordando o encontro histórico entre Paulo VI e Atenágoras em 1964, Leão XIV afirmou que o gesto profético de retirar da memória da Igreja as excomunhões de 1054 abriu um caminho sem volta:
“Não podemos retroceder no compromisso com a unidade. Somos chamados a amar-nos como irmãos.”
O Papa agradeceu ao Patriarca Bartolomeu pelo empenho no diálogo teológico e reforçou que a construção da plena comunhão continua sendo prioridade essencial do seu ministério como Bispo de Roma.
Chamado à conversão espiritual diante dos desafios do mundo
Leão XIV destacou ainda três desafios urgentes que católicos e ortodoxos devem enfrentar juntos:
1. Conflitos e violência
“Somos chamados a ser construtores de paz, conscientes de que a paz é dom de Deus”, afirmou.
2. Crise ecológica
O Papa elogiou o testemunho do Patriarca Bartolomeu, figura reconhecida internacionalmente por sua defesa da criação:
“A urgência ecológica exige uma conversão espiritual, pessoal e comunitária.”
3. Novas tecnologias
O Papa pediu que as Igrejas atuem em conjunto para que a tecnologia sirva ao bem de todos, e não a privilégios.
Um gesto que ficará na história
Ao final da celebração, Papa Leão XIV e Bartolomeu I, lado a lado na sacada da Igreja Patriarcal, concederam aos fiéis a bênção ecumênica — um momento de forte emoção para cristãos de todo o mundo.
Encerrando sua saudação, o Papa invocou a intercessão dos Apóstolos Pedro e André, de São Jorge e dos santos do Concílio de Niceia, concluindo com um afetuoso gesto fraterno:
“Χρόνια Πολλά! Ad multos annos!” — ‘Por muitos anos!’
Um dia que reafirma: quando os irmãos se reencontram, a fé cristã resplandece com mais força.
*Com informações e imagens do VATICA NEWS