A região da Caatinga é uma área socioecológica de clima semiárido que abrange cerca de 912km² do Nordeste brasileiro – na qual vivem mais de 28 milhões de pessoas – e o Cariri paraibano, uma sub-região da Caatinga, possui grande parte marcada por áreas degradadas. Um grupo de pesquisadores do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) está avaliando e replicando um sistema sustentável produtivo na região com os menores índices pluviométricos da Caatinga.
O projeto de pesquisa “Replicabilidade de um sistema sustentável e altamente produtivo na região mais seca do Brasil”, ou Nexus Caatinga, está sendo realizado com a ideia de possibilitar o desenvolvimento econômico e social da Caatinga, mantendo e promovendo um meio ambiente adequado à vida, com a integração das seguranças hídrica, energética e alimentar, em uma abordagem conhecida como Nexus.
O objetivo é replicar o sistema sustentável e promover uma produção agropecuária e de alimentos no semiárido com eficiência, baixo custo, e produtividade comparável aos mais altos índices de produtividades nacional e internacional. Na primeira fase do projeto, foram testados alguns princípios e avaliado o potencial de replicabilidade do modelo de sistema sustentável. Um exemplo foi a prática realizada na Fazenda São Paulo dos Dantas, no município da Prata (PB), onde o proprietário Delmiro Dantas obteve como resultados o aumento nos índices de produtividade agropecuária, conservando a maior parte da biodiversidade local.
O projeto é apoiado na Chamada MCTI/CNPq nº 19/2017 – Nexus I: Pesquisa e Desenvolvimento em Ações Integradas e Sustentáveis para a Garantia da Segurança Hídrica, Energética e Alimentar nos Biomas Caatinga e Cerrado. Na UFPB o Nexus Caatinga é coordenado pelo Prof. Helder Farias de Araújo e conecta cientistas, estudantes, técnicos, gestores públicos, organizações não-governamentais e produtores locais, com a missão de desenvolver paisagens agrícolas sustentáveis na Caatinga.
As paisagens agrícolas sustentáveis são iniciativas que fazem o melhor uso dos bens e serviços da natureza e das tecnologias e práticas humanas para melhorar a vida dos trabalhadores rurais, aumentando a produtividade agrícola, protegendo a biodiversidade e mantendo serviços ecossistêmicos dos quais a própria agropecuária depende.
De acordo com o professor Helder Farias de Araújo, várias ações do projeto já possibilitaram resultados de interesse para o desenvolvimento sustentável na Caatinga, como exemplo, o desenvolvimento de um modelo de paisagem sustentável que beneficia simultaneamente a manutenção de água no solo, a produção de energia de biomassa e a produção de uma diversidade de alimentos.
“Agora, estamos iniciando com algumas unidades experimentais do modelo com alguns pequenos produtores nos municípios de Cabaceiras, São José dos Cordeiros e na própria Estação Experimental de São João do Cariri da UFPB”, informou o docente.
Outros exemplos de resultados do projeto até o momento foram a avaliação do desempenho de variedades agrícolas de sorgo e feijão em regime de sequeiro, um estudo sobre o papel da cobertura natural ao redor do campo agrícola na redução dos danos às culturas e da abundância de pragas, o aumento da produção de goiabas mediado pelo serviço de polinização das abelhas, além de um estudo sobre o papel da estrutura da paisagem na reorganização de sua capacidade produtiva após alterações climáticas.
O projeto Nexus Caatinga conta com mais de 30 subprojetos em andamento e já atuou diretamente na formação de mais de 50 estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado. Com o apoio financeiro do CNPq em fase final para o projeto geral, o projeto Nexus Caatinga recebeu, em 2021, um apoio da Chamada Interna de Produtividade em Pesquisa, da Pró-reitoria de Pesquisa da UFPB, e do Programa de Residência Profissional Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA), como suporte para custeio e bolsas.
“Mais que a importância ou responsabilidade de coordenar esse projeto, vemos os frutos que podem direcionar um exemplo de desenvolvimento produtivo e sustentável real, em uma área modelo, o Cariri Paraibano, para outras regiões no mundo, onde a questão do clima de semiaridez ou mesmo das mudanças climáticas, da pobreza e dos recursos ambientais escassos parecem ser um obstáculo para o desenvolvimento”, disse Helder Farias.
A partir de 2022, o projeto também passa a contar com financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba – Fapesq, por meio de subprojetos aprovados nos editais Universal e Programa Primeiros Projetos, bem como um novo financiamento do CNPq para um subprojeto aprovado na chamada universal. Segundo Helder Farias, o financiamento atual é suficiente para mais três anos de atividades, no entanto, por tratar-se de um projeto contínuo, espera-se que as pesquisas e ações resultem em melhorias constantes, tanto nas bases teóricas como nas implicações práticas.
* * *