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UTIs-Covid de todo o país estão fora da zona de alerta, mostra boletim da Fiocruz

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Pela primeira vez durante a pandemia, o mapa do Brasil está totalmente verde em relação às taxas de ocupação de leitos de UTI-Covid para adultos no SUS. É o que mostra o boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgado nesta sexta (25), que faz monitoramento da crise sanitária desde julho de 2020.

O mapa verde significa que todas terapias intensivas de todos estados brasileiros e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação inferiores a 60% e fora da zona de alerta para esse indicador. O boletim divulgado nesta sexta se refere ao período de 6 a 19 de março.

“É um alívio. Saímos daquele [mapa do] Brasil vermelho, onde as UTIs estavam pressionadas, com falta de leitos, com equipes sobrecarregadas. Está todo mundo com os dedos cruzados para que isso se mantenha”, afirma o médico intensivista Ederlon Rezende, coordenador do UTIs Brasileiras, projeto que monitora dados sobre terapias intensivas.

Segundo ele, as equipes de terapia intensiva observam uma volta à rotina, agora com leitos ocupados mais por pacientes cirúrgicos. “Mas não estão recuperadas desses dois anos ininterruptos. Tem muita gente ainda com estafa, o impacto foi muito grande.”

O cenário de otimismo nas UTIs é atribuído ao avanço da vacinação. Os dados da Fiocruz mostram que 82% da população brasileira já tomou a primeira dose, 74% com a vacinação completa e 34% vacinada com a dose de reforço.

“A vacinação foi responsável por uma diminuição importantíssima de formas mais graves da Covid e de internação. O agravamento dos quadros hoje é observado em não vacinados ou em pessoas com imunosupressão ou imunossenescência [envelhecimento natural do sistema imunológico pela idade]”, diz a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espirito Santo.

Os pesquisadores do observatório da Fiocruz alertam que o momento ainda exige atenção nas ações de vigilância em saúde e cuidados. “É importante destacar que essa queda encontra-se acompanhada de taxas ainda significativas de [Síndrome Respiratória Aguda Grave] SRAG e incidência de mortalidade por Covid-19”, dizem.

As análises sobre internações e óbitos por SRAG e Covid-19 destacam que os grupos extremos da pirâmide etária são atualmente os mais vulneráveis: os idosos que têm a idade como um fator de risco e crianças de 5 a 11 anos, em razão da baixa adesão dos seus responsáveis à vacinação.

Em relação aos idosos, os pesquisadores reforçam a necessidade de busca ativa daqueles que ainda não estão com o esquema vacinal completo e da aplicação da quarta dose para aqueles elegíveis.

Segundo eles, o controle da pandemia não deve se concentrar apenas na vacinação mas sim em uma série de providências e recomendações, como a manutenção do uso de máscaras.

“Consideramos prudente a manutenção do uso de máscaras para determinados ambientes fechados, com grandes concentrações de pessoas (a exemplo dos transportes coletivos) ou abertos em que haja aglomerações”, recomendam.

A epidemiologista Ethel Maciel lembra que, como não há uma vacinação de forma igualitária no mundo, isso pode propiciar surgimento de novas variantes. “Estamos vendo um crescimento da BA.2 em países da Europa e nos Estados Unidos e aqui no Brasil também.”

Dados divulgados nesta quinta (24) pelo Instituto Todos pela Saúde mostram uma alta na proporção de casos suspeitos de BA.2: de 3,8% para 27,2% das amostras positivas. Foram avaliados 118.638 testes de Covid-19 pelos laboratórios DB Molecular e Dasa entre 5 dezembro de 2020 e 19 de março deste ano.

O boletim epidemiológico da Fiocruz também descreve o perfil dos pacientes internados em UTI para tratamento de Covid-19 ativa. Os sinais e sintomas mais prevalentes foram dispneia (71%), baixa saturação de oxigênio (abaixo de 95%) e desconforto respiratório (60%).

A grande maioria (70%) dos pacientes possui alguma condição crônica, sendo que as mais prevalentes são cardiopatia (43%), diabetes (39%) e obesidade (9%). O perfil demográfico mostra que as situações mais críticas ocorrem principalmente entre homens (51%), pessoas idosas (62%), e pretos e pardos (49%).

Os dados das duas últimas semanas epidemiológicas (de 6 a 9 de março) confirmam a manutenção da tendência de queda de indicadores de incidência e mortalidade por Covid-19, porém, em menor velocidade.

Para os pesquisadores, essa redução pode apontar para um período de estabilidade da transmissão nas próximas semanas, com taxas ainda altas de incidência e mortalidade.

Foi registrada uma média de 42 mil casos diários, representando um decréscimo de 32% em relação às duas semanas anteriores (20 de fevereiro a 5 de março).

Também foi observada a redução do número de óbitos por Covid-19 no período, com uma média diária de 570 óbitos, cerca de 35% abaixo dos valores das duas semanas anteriores.

A taxa de letalidade por Covid-19, ou seja, a proporção de casos notificados que resultou em morte, permaneceu em valores próximos a 1%. Ao longo de 2021, oscilavam entre 2% e 3%.

No início de 2022, foram reduzidos para 0,2% e, ao longo do mês de março, voltaram a aumentar para 1%. O aumento discreto da letalidade hospitalar entre adolescentes de 10 a 19 anos também é destacado pelos pesquisadores.

Para eles, o ponto de mudança da Covid-19 de pandemia para endemia envolverá um conjunto de indicadores, sendo um deles o de letalidade, e a OMS (Organização Mundial da Saúde) deve ser a principal referência para essa definição.

No último dia 17, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, apresentou ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, estudos para o fim da situação de emergência sanitária no Brasil devido à pandemia da Covid-19, mas, segundo o governo, essa transição não será feita de forma abrupta.

*Com informações do Jornal de Brasília