Um Papa surpreendente, um dos maiores teólogos do século
Alguns fatos de sua vida não são tão conhecidos, mas indicam a força, a fé, o caráter e humildade que lhes são próprios. Outros fatos curiosos contam um pouco da família e dia a dia do mestre alemão. Interessante, por exemplo, foi o modo como o pai de Joseph Ratzinger , um comissário de polícia alemã, senhor Joseph, encontrou a sua esposa. Colocou um anúncio no jornal procurando por moça virtuosa para casamento. Ao anúncio, respondeu aquela que seria, então, a mãe de Ratzinger, a senhora Maria Peintner. Desse casamento, nasceram 3 filhos: Georg , Joseph e Maria. Joseph e Georg se encaminharam desde muito cedo à vocação sacerdotal. Maria não se casou e dedicou-se aos cuidados dos pais e, depois, mais tarde, dos dois irmãos.
Bento XVI era simplesmente apaixonado por gatos, os quais cuidava no Mosteiro Mater Ecclesiae. Quando cardeal, habitava em Borgo Pio e os gatos da rua o conheciam e eram alimentados e cuidados por ele, chegavam a ganhar até nome. Seu secretário, monsenhor Georg Gänswein, até escreveu um livro intitulado “Joseph e Chico”, direcionado às crianças, no qual conta a vida de Bento XVI, tendo como narrador um gato chamado Chico, descrito como um dos melhores amigos do Papa.
O gosto pela música clássica nasceu por influência dos país e, desde a infância, apaixonou-se pela obra de Wolfgang Amadeus Mozart, antes de completar 10 anos já tinha como “passatempo” ouvir “Missa de Coroação”. Entre as brincadeiras preferidas, estavam: celebrar a missa e tocar piano. Aos 14 anos, traduzia para o alemão obras literárias em grego e latim, algo que ele fazia como “diversão”.
Um dos fatos de sua biografia polemizados pela imprensa, mas pouco entendido, foi o serviço obrigatório prestado por Joseph Ratzinger no Exército Alemão, precisamente na chamada Juventude Hitleriana (ou Hitlelista). Em 1943, com dezesseis anos, foi encarregado da defesa antiaérea da fábrica da BMW, nos arredores de Munique. Esteve também em Unterförhrin, Gilching e ao norte do lago Ammer. Passou fome, frio e realizou trabalhos pesados. Após ser ferido, desertou e foi para a casa. Na ocasião, as forças americanas haviam feito de sua casa um quartel e ele foi levado para um campo de prisioneiros de guerra. Foi libertado meses depois do final da guerra, em 1945.
Nessa época, carregava consigo um caderno e um lápis, escrevia o que recordava das aulas que havia tido, a fim de não se esquecer do que aprendeu e também como forma de preparação para o exame de admissão, devido à nova fase de estudos que viria. E, por falar em aulas, aos 7 anos de idade, ele caminhava 1 hora e meia para chegar até a escola; contando ida e retorno eram cerca de 3 horas a pé, mesmo no mais rigoroso inverno da região da Baviera. Ele considerava uma grande dádiva ter acesso aos estudos, até porque, chegou à escola tarde, por falta de condições econômicas de sua família.
Ele foi aprovado à Livre Docência; e, aos 30 anos, já era doutor em teologia, mas quase foi reprovado por seu professor-orientador Schamaus, que fez inúmeras críticas à sua tese. Sabe o que ele fez com a cópia da tese grifada exaustivamente pelo orientador? Após fazer as devidas “correções”, ele a queimou.
Impecável nos estudos, mas não tão impecável assim ao volante. Ratzinger até tentou, mas concluiu que era melhor continuar andando a pé ou de trem. Ele mesmo afirma que o problema não foi tanto a falta de habilidades para a direção, e sim a preferência por outros meios de transporte.
Bento XVI e sua vida religiosa
Quando recém ordenado, foi diretor espiritual de um grupo de jovens, trabalho que exercia sobre ele verdadeiro fascínio. Com os jovens de sua paróquia, empreendia momentos de recreação e oração. Ele mesmo conta que foi muito doloroso quando precisou deixar os seus jovens para iniciar outra fase de sua vida dedicada ao ensino. E, como professor, continuou atraindo a juventude, uma multidão de jovens alunos participava de suas aulas.
Na Alemanha, ainda nos tempos de professor, jogava bocha e recebia amigos frequentemente em sua casa para discussões teológicas. Da mesma forma, também era convidado pelos amigos para ir aos jantares e encontros para esse tipo de reflexão. Além desse “hobby”, ele gostava de andar a pé longas distâncias, hábito que conservou por muito tempo.
A postura dos diferente Papas
Falando em hábitos, diferente do Papa precedente e do sucessor – João Paulo II e Francisco –, Bento XVI sempre precisou de boas horas de sono, perto de 8 horas por noite. Caso tivesse a noite de sono prejudicada, o seu dia não era dos melhores. Uma curiosidade é que: na noite em que foi eleito, acordou às 2h da madrugada, conseguindo retornar ao sono somente 2 horas depois.
Todos os seus escritos foram feitos a lápis, até mesmo a extensa trilogia sobre Jesus. A caneta só foi usada para assinar documentos. E é bom lembrar que nem mesmo Ratzinger sabe quantos artigos e textos escreveu quando professor, bispo e cardeal. São tantos que perdeu a conta. Aqueles que transcreveram suas obras para os diversos idiomas sempre comentam da dificuldade de enxergar a letra pequena de Ratzinger, ainda mais a lápis.
E foram por seus tantos escritos e o frescor de seu pensamento teológico que ele foi perito no Concílio Vaticano II, conhecendo na ocasião aquele que iria se tornar um grande amigo, o cardeal polonês Karol Wojtyla – Papa João Paulo II. Foi o Papa polonês que o levou para o Vaticano e fez dele seu braço direito, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Catecismo da Igreja Católica
Como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, liderou a produção do Catecismo da Igreja Católica, uma obra de “exposição da fé da Igreja e da Doutrina Católica testemunhadas ou iluminadas pelas Sagradas Escrituras, pela tradição apostólica e pelo Magistério da Igreja”1. Como um grande mestre da fé, um professor zeloso, queria que todos os católicos não só entendessem, mas tivessem ao alcance das mãos a Doutrina.
O cardeal Joseph Ratzinger teve um derrame cerebral em 1991 que afetou a visão do olho esquerdo, depois, em 1994, teve uma espécie de embolia que acarretou a perda total da visão desse olho. Portanto, Bento XVI é cego do olho esquerdo desde 1994 . Quando foi acometido pela doença, Ratzinger – pela segunda vez –, pediu a João Paulo II para deixar a liderança do dicastério. O pedido foi negado – e seria ainda negado por outras vezes com um simples “não”. E, assim, Ratzinger só deixou o cargo no dicastério quando eleito Papa, em 2005.
Certamente, tantos outros fatos podem ser contados sobre Bento XVI e, em todos eles, será possível entrever a escolha divina ao dar à Igreja um mestre da fé, que, nos dias de hoje, continua sua missão de joelhos, em oração silenciosa e revolucionária.
Liliane Borges,
missionária da Comunidade Canção Nova