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1º bispo NEGRO do Brasil era mineiro e comandou a Arquidiocese da Paraíba por 30 anos

Dom José Maria Pires (1919–2017), conhecido nacionalmente como Dom Zumbi, figura entre os nomes mais marcantes da Igreja Católica brasileira no século XX. Sua trajetória combina coragem, espiritualidade profunda e uma atuação firme contra o racismo em um país que insistia em se esconder atrás do mito da democracia racial.

Nascido no pequeno distrito de Córregos, em Conceição do Mato Dentro (MG), e filho de uma família humilde, José Maria cresceu testemunhando de perto as desigualdades que atingiam principalmente a população negra. Essas vivências moldaram seu olhar sensível e seu compromisso com uma fé comprometida com a justiça social.

Ordenado padre em 1944, José Maria Pires foi nomeado bispo em 1957, tornando-se o primeiro bispo negro da história do Brasil. Sua presença na alta hierarquia eclesiástica representava não apenas um avanço simbólico, mas uma ruptura necessária em um país que ainda negava ao povo negro acesso a posições de liderança.

Em 1965, assumiu a Arquidiocese da Paraíba, onde permaneceria por mais de 30 anos, conduzindo a Igreja com firmeza, sensibilidade e compromisso social. Foi nesse longo período que seu protagonismo nacional se consolidou e sua voz se tornou indispensável nas discussões sobre desigualdade, racismo e direitos humanos.

Três décadas de liderança corajosa na Paraíba

Durante seus 30 anos à frente da Arquidiocese da Paraíba, Dom José Maria Pires se destacou por uma postura profética. Enfrentou injustiças, denunciou preconceitos e se posicionou sempre ao lado dos mais vulneráveis. Para ele, combater o racismo não era apenas um dever moral ou político — era parte essencial de sua missão evangelizadora.

Ele denunciava, de forma incansável, o racismo estrutural presente na sociedade brasileira e também dentro da própria Igreja. Em suas homilias, cartas pastorais e intervenções públicas, afirmava que a fé cristã não poderia conviver com qualquer forma de discriminação.

Voz firme na ditadura e referência na Teologia da Libertação

Nos anos mais duros da ditadura militar, Dom José se tornou uma das vozes mais corajosas da Igreja. Defendeu perseguidos políticos, criticou violações de direitos humanos e participou ativamente das reflexões da Teologia da Libertação, valorizando a luta do povo negro e cobrando um posicionamento claro das instituições religiosas contra o racismo institucional.

O nascimento de “Dom Zumbi”

Seu apelido, Dom Zumbi, surgiu da forte identificação com as causas do povo negro. Participou de encontros do Movimento Negro, incentivou a criação de pastorais voltadas para a população afrodescendente e defendeu que a cultura negra estivesse presente nas celebrações religiosas, rompendo com séculos de invisibilidade.

Dom José acreditava em uma fé transformadora — não apenas acolhedora, mas capaz de questionar estruturas de opressão e gerar mudanças concretas.

Dom José Maria Pires faleceu em 22 de agosto de 2017, aos 98 anos, em Belo Horizonte, após complicações respiratórias. Sua morte mobilizou lideranças religiosas, movimentos negros, intelectuais e fiéis em todo o país, que reconheceram nele não apenas um arcebispo emérito, mas um símbolo nacional de resistência e humanidade. As homenagens ressaltaram sua coerência, sua coragem e o compromisso inabalável com a justiça racial, que marcou toda a sua vida.

Mesmo após sua aposentadoria, ele continuou ativo: escrevendo, orientando novos líderes religiosos e participando de debates sobre democracia, desigualdade e combate ao racismo. Faleceu em 2017, aos 98 anos, deixando um legado de resistência, espiritualidade e compromisso com a justiça racial.

Dom José Maria Pires não foi apenas o primeiro bispo negro do Brasil e um arcebispo que liderou a Paraíba por três décadas. Ele foi — e continua sendo — um símbolo de luta, coragem e esperança para o povo negro e para todos aqueles que acreditam na construção de uma sociedade verdadeiramente igualitária.

*Da redação do BOA NOTÍCIA PB