Francisco recebeu os participantes do 5º Simpósio Global da Uniservitate “Aprendizado de Serviço e o Pacto Educativo Global”, na ocasião relembrou uma passagem da infância para incentivá-los a cultivar “a arte de fazer perguntas”. Em seguida, citou a “virada” no filme “Sociedade dos Poetas Mortos” com os alunos que sobem em suas carteiras para mudar seu ponto de vista: eles são um exemplo de uma educação que transforma vidas e não se reduz à mera “transmissão de conteúdo”
Um grande sábio disse: “cultura da curiosidade”, que não é a mesma coisa que a cultura da bisbilhotice, não, nada a ver uma com a outra. Cultura da curiosidade, valorizando a arte de fazer perguntas. É isso que as crianças nos ensinam na idade dos porquês. A idade dos porquês. “Papai, por quê? Papai, por quê? Mamãe, por quê?”
Na conclusão do V Simpósio Global Uniservitate, intitulado “Service-Learning e o Pacto Educativo Global”, o Papa Francisco recebeu uma delegação de participantes na manhã deste sábado, 9 de novembro, no Palácio Apostólico do Vaticano, a quem recomendou “falar com o coração” a este “mundo líquido” e, acima de tudo, ter cuidado e se defender das “ideologias de turno”, o “pior inimigo” do caminho da maturidade.
“Aprendizagem no serviço”
O Papa começou reconhecendo o “particular interesse para a Igreja” despertado pelo encontro, que tinha como objetivo promover o “método pedagógico de ‘service-learning’, ou aprendizagem no serviço, cultivando a responsabilidade comunitária dos estudantes por meio de projetos sociais, que fazem parte integrante do seu percurso acadêmico”.
A virada de “Sociedade dos Poetas Mortos
A esse respeito, Francisco lembra a famosa cena do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, em que os alunos de uma renomada escola de ensino médio de New England são convidados por seu novo e “muito original” professor de literatura (interpretado por Robin Williams) a “subir em suas carteiras e olhar a classe de outro ponto de vista”. Uma verdadeira “virada”, observa o Papa.
O episódio revela o que deveria ser a educação: não apenas a transmissão de conteúdo – isso é uma coisa – mas a transformação da vida. Não apenas a repetição de fórmulas – como papagaios – mas o treinamento para enxergar a complexidade do mundo. É isso que a educação deve ser
O método de ensino de Jesus
Um estilo pedagógico semelhante ao de Jesus, que pode ser atribuído a “uma de suas formas mais recorrentes de ensino, as parábolas”. Um meio “simples e acessível a todos” – “e todos entendem… todos” – acrescenta Francisco – que permite “ao ouvinte entrar na narrativa envolvendo-se e confrontando-se com os personagens”.
O objetivo de Jesus é garantir que o ouvinte não seja apenas o destinatário da mensagem, mas que se coloque em jogo na primeira pessoa.
Não se diminua o saber
O Papa opõe esse estilo à “diminuição do saber em determinados programas, muitas vezes subservientes a interesses políticos e econômicos” causados pela “atual globalização”. Essa “uniformidade esconde formas de condicionamento ideológico que falsificam a obra educativa, tornando-a um instrumento para fins bem diferentes da promoção da dignidade humana e da busca da verdade”.
A ideologia sempre faz retroceder, não permite que a pessoa se desenvolva. Sempre retrocede. Portanto, estejam atentos e defendam-se das ideologias de turno
As iniciativas da Uniservitate
Contra a “diminuição” do saber, o Papa elogia as atividades da “rede Uniservitate, do Centro Latino-Americano de Aprendizagem e Serviço Solidário”, cujo objetivo é justamente promover o aprendizado-serviço no ensino superior católico. Um título, este último, não puramente “honorário”, do qual deriva “o compromisso de cultivar um estilo pedagógico característico e uma didática coerente com os ensinamentos do Evangelho”.
Não se trata de ideologia evangélica. Não. É humanismo, humanismo de acordo com o Evangelho.
“Construamos uma aldeia educativa”
A missão da Uniservitate adere plenamente ao Pacto Educativo Global, a iniciativa lançada por Francisco em setembro de 2019 que visa “um encontro para reavivar o compromisso em prol e com as gerações jovens, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão”. Isto só é possível, observa o Papa, correspondendo ao provérbio africano que ele cita frequentemente, que afirma que “para educar uma criança” é necessária “uma aldeia inteira”.
Construamos, portanto, uma “aldeia educativa”, onde possamos partilhar o compromisso de promover relações humanas positivas e culturalmente válidas.
Além das salas de aula e bibliotecas
Se falamos de aldeia e comunidade, fica claro como a educação se torna uma atividade que vai além das “salas de aula” ou das bibliotecas. “Continua na vida, continua nos encontros e nos caminhos que percorremos todos os dias. Escutar o outro, refletir sobre o diálogo: este é o caminho para a educação”. A aliança esperada por Francisco gera “paz, justiça e acolhimento”, incentivando “o diálogo entre as religiões e o cuidado da nossa casa comum”.
Tenhamos consciência de que a tarefa não é fácil, mas é emocionante! Educar é uma aventura, é uma grande aventura.
Estudantes em relação com a realidade
Para apoiar as iniciativas comuns às escolas católicas, Francisco propõe dois princípios presentes na exortação apostólica Evangelii gaudium: “a realidade é superior à ideia” e “o todo é superior à parte”. Os projetos pedagógicos terão de ligar os alunos “à realidade que os rodeia”, para que “aprendam a transformar o mundo não em benefício próprio, mas com espírito de serviço».
Ajudando as novas gerações
Francisco pede para apoiar os jovens na exploração “de si mesmos e do mundo” sem reduzir o “conhecimento”, neste caso apenas à “capacidade da mente”, mas antes “completá-lo com a destreza do trabalho manual e com a generosidade de um coração apaixonado.” Uma educação, portanto, feita de “mente”, “coração” e “mãos”.
Devemos aprender a pensar o que sentimos e fazemos, a sentir o que fazemos e pesamos, a fazer o que sentimos e pensamos. Isto é educação: a tríplice linguagem.
O caminho para a “tarefa muito urgente”
O Papa conclui a sua mensagem propondo “um bom caminho para ter sucesso numa tarefa tão urgente”, retirada da encíclica Dilexit nos. “Num mundo líquido é necessário voltar a falar com o coração”, explica Francisco, pois “só a partir do coração as nossas comunidades poderão unir as diferentes inteligências e vontades e pacificá-las para que o Espírito nos guie como rede de irmãos”.
Hoje o inimigo, talvez o maior, no caminho do amadurecimento, são as ideologias. As ideologias não nos fazem crescer, ideologias de qualquer tipo. São inimigas do amadurecimento.
*Com informações e imagem do Vatican News