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Ramon Torres, coordenador da Fraternidade Irmãos de Francisco, é o entrevistado deste domingo no espaço CAMPINA QUE FAZ

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No espaço CAMPINA QUE FAZ, o BOA NOTÍCIA PB repercute neste domingo, 20, entrevista com o coordenador da FRATERNIDADE DE ALIANÇA IRMÃOS DE FRANCISCO, Ramon Torres, que há 11 anos decidiu doar-se ao serviço de amparo aos moradores em situação de rua de Campina Grande.

Ramon Torres é empresário no ramo de imóveis que um dia pensou em ser padre franciscano, mas desistiu. À frente da Fraternidade Irmãos de Francisco, que no próximo dia 30 de julho completa 11 anos de fundação, Ramon fala das dificuldades por que passam os mais de 300 cidadãos que moram nas praças e marquises das ruas centrais da cidade “Rainha da Borborema“.

A falta de políticas públicas por parte dos poderes constituídos para assistir essa população de rua, é o maior desafio revelado por Ramon. Entretanto, sem parar nessa barreira, ressalta que a Fraternidade Irmãos de Francisco, que conta com mais de 120 colabores, segue fazendo o seu trabalho: levando alimentação de qualidade, roupas, dignidade, uma palavra amiga, encaminhamento para tratamento de saúde e Jesus Cristo para homens, mulheres e jovens que têm as ruas centrais de Campina como seu único “teto”.

CONFIRA A ENTREVISTA.

BNPB – O QUE É E COM QUE FINALIDADE SURGIU A FRETERNIDADE “IRMÃOS DE FRANCISCO”?

RAMON TORRES -A Fraternidade de Aliança Irmãos de Francisco, que realiza a Pastoral de Rua da Diocese de Campina Grande, surgiu da necessidade de ter um trabalho permanente com essa população vulnerável que vive na rua. O objetivo é o trabalho permanente, não apenas levando alimentação de qualidade, mas tendo intimidade para ajudar essa população a sair das ruas, coisa que não é fácil. Isso porque não estamos combatendo apenas a pobreza, o abandono, mas também as drogas. Levamos também roupas e agasalhos e itens de higienização pessoal. Temos ainda um trabalho amplo de cadastro dessa população e oferecemos projetos como “De Volta ao Lar”, “Primeiro Emprego Informal”. Não levamos apenas o peixe, mas também a rede, ensinando essa população a ter seu “ganha-pão” para não ficar a vida toda dependendo de esmolas.

BNPB – COMO FAZER PARTE DESSE IMPORTANTE SERVIÇO DE DOAÇÃO E CARIDADE?

RAMON TORRES – Para quem quer ser membro voluntário ou benfeitor não requer muita coisa. Apenas ter a boa vontade e saber que vamos estar nos deparando com pessoas que são usuárias de drogas, que têm problemas com a saúde mental, abandonadas e em situação de risco. Se você se sente tocada pelo nosso carisma será muito bem vindo(a). Aqui é um local que não há espaço para o preconceito, não exigimos nem cobramos alguma coisa nenhuma.

BNPB – A FRATERNIDADE TEM VINCULAÇÃO E ORIENTAÇÃO CIRSTÃ-CATÓLICA?

RAMON TORRES – A Fraternidade tem essa denominação de Irmãos de Francisco, desde 2013. No dia 30 de julho estaremos completando 11 anos de serviço Pastoral de Rua. Temos a benção do bispo anterior de Campina, Dom Delson e do atual Dom Dulcênio. Fazemos parte das Pastorais Sociais da Diocese e também da Cáritas Diocesana. Nosso trabalho é reconhecido pela nossa Diocese e pelo Vicariato para a Justiça, Paz e Caridade. São celebradas Missas para a população em situação de rua pelos padres diocesanos e frades menores do Convento de Lagoa Seca.

BNPB – QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS ENFRENTADOS PELA FRATERNIDADE?

RAMON TORRES – São a falta de políticas públicas para essa população. Não temos dormitórios para essa população de rua, nem água potável. Existe uma carência enorme de água, principalmente nos feirados e domingos. E também em relação a saúde pública dessa população marginalizada e esquecida que carece de qualquer tipo de assistência.

BNPB – QUANTOS CIDADÃOS QUE VIVEM EM SITUAÇÃO DE RUA EM CG SÃO ALCANÇADOS PELO VOLUNTARIADO DOS IRMÃOS DE FRANCISCO?

RAMON TORRES – Nós temos cadastrados mais de 300 moradores em situação de rua. Somos pioneiros na cidade em cadastrar essa população, e a cada ano e meio é feito o recadastramento. E dentro de um esforço muito grande a gente consegue chegar a essa população e dar assistência mínima, doando um cobertor, um roupa, alimentação de qualidade, dar uma palavra amiga e algum encaminhamento na área de saúde e de dormitório.

BNPB- ALÉM DO PESSOAL VOLUNTÁRIO QUE VAI À RUA AO ENCONTRO DO IRMÃO EXCLUÍDO, OUTRAS PESSOAS COLABORAM COM DOAÇÕES OU AJUDAS?

RAMON TORRES – Temos alguns benfeitores, que são poucos. Poucas empresas também nos ajudam. É uma despesa grande. Pelo menos uma vez por semana, levamos alimentação de qualidade, água mineral, primeiros socorros, roupas e material de higienização pessoal. A nossa população e a imprensa têm sido generosas e grandes parceiras da Fraternidade, ao longo desses 11 anos.

BNPB – AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO SOCIAL DA PREFEITURA DE CAMPINA GRANDE TÊM SIDO TAMBÉM PARCEIRAS DA FRATERNIDADE?

RAMON TORRES -Não temos parcerias com o município nem com o estado, mas existe um diálogo e uma troca de informações positivas. Sempre que precisam das nossas informações a gente procura passar, principalmente as que são necessárias para o governo estadual e para a prefeitura de Campina. Mas nunca fomos procurados para uma parceria direta.

BNPB – NESSES MAIS DE 14 MESES DE PANDEMIA COMO TEM SIDO O TRABALHO DA ENTIDADE JUNTO AOS CIDADÃOS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE EM CAMPINA?

RAMON TORRES -Desde que começou a pandemia a gente tem se desdobrado e ido mais vezes às ruas. Fomos pioneiros na doação de máscaras para essa população em situação de rua. Com a pandemia surgiram muitos membros o que fez que não cessássemos o trabalho e ficássemos mais próximo dessa população.

BNPB – QUAL O PERIL DOS MORADORES DE RUA DE CAMPINA GRANDE?

RAMON TORRES -São diversos os perfis. São pessoas que estão na rua por necessidade, por abandono, por ser usuárias de drogas e outras com problemas de saúde mental e pobreza.

BNPB – VOCÊ ACREDITA QUE É POSSÍVEL DEVOLVER DIGNIDADE A ESSES CIDADÃOS QUE SÃO TAMBÉM FILHOS E FILHAS DE DEUS?

RAMON TORRES – Acredito sim. Dignidade é quando a gente respeita essa população e leva uma refeição ou dar um roupa para eles. São filhos de Deus. Quando a gente faz, a gente faz sempre pensando em Jesus, porque Jesus está ali no meio deles.

BNPB – O QUE IMPULSIONOU O JOVEM RAMON TORRES A SER MAIS UM “CRSITO” NA VIDA DESSES HOMENS, MULHERES E JOVENS QUE PERDERAM O SENTIDO DE TER UMA FAMÍLIA, UM LAR, E ATÉ A PRÓPRIA EXISTÊNCIA?

RAMON TORRES – Antes de ingressar na Pastoral de Rua, há mais de 11 anos, eu já fazia parte da Pastoral da Criança, onde passei sete anos. Fui vocacionado da Ordem Menor Franciscana, cheguei a pensar em ser padre, mas acabei desistindo. Toda essa vivência dentro da Igreja me impulsionou a doar-me nesse serviço. Como também os ensinamentos de Dom Helder Câmara. Não há como fugir do chamado de Deus. Quando Deus nos chama temos que abraçar com amor e perseverança a missão, consciente de que não é fácil. No início foi um trabalho muito criticado, hoje muito copiado, graças a Deus. Somos uma grande família. A Fraternidade tem mais de 120 membros atualmente, de Lagoa Seca, Alcantil, Lagoa de Roça e de toda grande Campina. Ganhei grandes irmãos, amigos, uma família. Hoje sinto-me realizado como cristão-católico em realizar com caridade esse serviço.

Por: Vanildo Silva
Jornalista, editor do BOA NOTÍCIA PB